1º Conde de Arnoso
Baptizado com o nome de Bernardo em memória de seu terceiro avô materno, pai do 1º visconde de Azenha, aos 7 anos (1862) vai estudar para Lisboa para o Colégio dos Inglezinhos[1] vivendo em casa dos Condes de Casal Ribeiro[2] amigos da família Pindela.
Cursou Matemáticas na Universidade de Coimbra, completando os seus estudos na Escola Politécnica e na Escola do Exército. Seguiu a carreira militar, na Arma de Engenharia, assentando praça em 7 de Novembro de 1871, promovido a Alferes, em 29 de Dezembro de 1877, a Tenente, em 14 de Janeiro de 1880, a Capitão, em 31 de Outubro de 1884, a Major, em 14 de Novembro de 1901 e a Tenente-Coronel do E.M., na mesma data. Passou à reforma no posto de General de Brigada em 27 de Fevereiro de 1908, logo após o Regicídio.
Entrou ao serviço do Paço como Oficial-Mor da Casa Real e Oficial às Ordens dos Reis D. Luiz I e D. Carlos I.
Casou duas vezes, a 1ª, a 16 de Julho de 1877, em Lisboa, com D. Maria José de Mello Abreu Soares Vasconcelos Brito Barbosa e Palha, n. a 9 de Julho de 1857 , em Lisboa e f. a 10 de Janeiro de 1882, em Lisboa; filha secundogénita dos 3ºs. Condes de Murça – D. José de Melo Abreu Soares de Vasconcelos Brito Barbosa e Palha e, de sua mulher, D. Ana de Sousa Coutinho Monteiro Paym; e a 2ª, em Lisboa, a 28 de Maio de 1890, com D. Matilde Munró dos Anjos, n. a 22 de Maio de 1874, em Lisboa e, f. no Lumiar em 1964, filha do Conselheiro Policarpo Pecquet Ferreira dos Anjos – Par-do-Reino, capitalista e comerciante e, de sua mulher D. Alice Munró, de origem irlandesa.
Por entre os afazeres da missão, houve tempo para visitar as termas do Imperador Qianlong, os túmulos Ming e a Grande Muralha e de anotar aspectos da vida pública e privada, as instituições políticas e o governo, usos e costumes, o cerimonial civil e religioso, a vida na Cidade Proibida, a arte, a literatura e a filosofia chinesas e a figura da Imperatriz viúva Cixi, que patrocinou uma política crescentemente conservadora e nacionalista, pondo fim às tentativas de reforma do reinado de seu marido, tentando em vão pôr cobro à cobiça das potências ocidentais.
A visita ao extremo oriente fascinou Bernardo Pindela e dela trouxe várias peças de arte oriental, porcelanas, estatuária em madeira, e cabaias de seda, a mais famosa das quais foi a oferecida a seu dilecto amigo Eça de Queirós e que hoje se guarda na Fundação Eça de Queirós.
Os «Vencidos da Vida», na Casa da R. de S. Domingos
Sendo íntimo e dedicado amigo de Eça de Queirós, após a sua morte, apresentou, em 15 de Março de 1901, um projecto de lei na Câmara dos Pares, destinado a conceder uma pensão á viúva e filhos de Eça de Queiroz fazendo o elogio do escritor, dizendo designadamente:
Amigo fidelíssimo de D. Carlos e seu secretário particular desde a sua subida ao trono em1889, acompanhava com frequência el-rei nas suas deslocações a Vila Viçosa e a nas caçadas na Real Tapada de Mafra.

Para estar mais perto do monarca durante as estadias da Família Real em Cascais, mandou construir (1894) uma casa de verão de traça tipicamente minhota junto ao mar – Casa de S. Bernardo, que hoje infelizmente já não está na posse da Família.
Em 1895, o rei D. Carlos I no dia do seu aniversário concedeu-lhe o título de Conde de Arnoso, em duas vidas tendo a 2ª vida verificado em seu filho primogénito – o 2º Tenente da Armada Real João Maria Rodrigo Pinheiro de Figueira e Melo, por Decreto de 1904.
Foi nomeado Par-do-Reino por Carta Régia, de 29 de Dezembro de 1900, tendo prestado juramento e tomado assento na Câmara dos Pares na sessão de 6 de Março de 1901.
Após o regicídio, e numa época de profunda crise de valores, política e socialmente conturbada, usou corajosamente a tribuna da Câmara dos Pares do Reino para clamar que fosse feita Justiça ao monarca e ao príncipe D. Luís Filipe assassinados no Terreiro do Paço, reverberando o governo pela complacência demonstrada na punição dos responsáveis pelo crime[6]. Desgostoso com a política e com os homens, retirou-se da vida pública após a proclamação da República, para a sua casa perto de Pindela onde viria a falecer no solar de seus maiores.
Num discurso na Câmara dos Pares proferido a 9 de Maio de 1908, definia-se deste modo: «A politica nunca me seduziu. Convidado, instado ha annos pelo ultimo, prestigioso, mallogrado chefe do partido regenerador, a assumir a gerencia da pasta dos Negocios Estrangeiros, numa situação a que ia presidir, terminantemente recusei tamanha honra, apesar das repetidas e demoradas instancias que me foram feitas».
Passou à história como exemplo de lealdade, de fidelidade e de nobreza de carácter.
Publicou as seguintes obras:
“Azulejos”, com prefácio de Eça de Queirós, 1886;
“De Braço Dado”, Lisboa, 1894, em colaboração com seu cunhado o Conde de Sabugosa;
“O Talisman” (ilustrado por Casanova), Porto, 1897;
“A Primeira Nuvem”, Lisboa, 1902, peça de teatro, representada em 1894;
a peça “O Suave Milagre”, Lisboa, 1902, de colaboração com seu amigo, o diplomata Alberto de Oliveira – adaptação ao teatro do conto de Eça de Queirós, a qual subiu à cena no Teatro D. Maria II, em 28 de Dezembro de 1901, por ocasião da qual, S.M. el-Rei lhe ofereceu uma aguarela da sua autoria representando uma cena da peça;
Elogio do Conde de Ficalho, in «Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa», 21.ª série, N.º 5, Maio de 1903;
“Vila Viçosa”, Separata de “A Arte e a Natureza em Portugal”, Porto, 1904 e,
“Justiça! – Sessão Parlamentar de 1909 (Discursos), 1ª ed., Lisboa, 1909.
Foto Ana Carla (Abril 1998)
A cidade de Guimarães onde nasceu prestou-lhe uma homenagem por iniciativa do Engº Duarte do Amaral, erguendo-lhe uma estátua, da autoria do escultor Joaquim Correia inaugurada em 1961, por sua filha D. Maria do Carmo, duquesa de Palmela e colocada no Largo da República do Brasil.
O município de Vila Nova de Famalicão, em 1 de Junho de 1995, também lhe prestou uma tocante homenagem colocando um busto em bronze, nos jardins da Biblioteca Municipal, descerrado por sua filha mais nova D. Teresa Pinheiro de Melo Magalhães, em cerimónia a que compareceram vários dos seus netos e bisnetos.
Em 2008, por iniciativa da Real Associação de Lisboa, foi descerrada uma lápide, na Rua do Arsenal em Lisboa, comemorativa do regicídio e, em que se evocou a figura do conde de Arnoso que na época havia sido apelidado pelos seus detractores como o «Conde da Lápide» por exigir a punição dos regicidas e dos seus instigadores e «…que na arcada do Terreiro do Paço, onde o horrendo crime se commetteu, uma lapide de marmore perpetue os nomes das martyrizadas victimas».
Diploma de Oficial da Ordem Militar de S. Bento de Aviz (1902) (BNP)
[1] Cf. Luís de Oliveira Guimarães, O Conde de Arnoso, Lisboa, Fundação da Casa de Bragança, 1958 e Debrett’s Peerage, Baronetage and Knightage, 1904 Printed by Dean & Son, London, 1904. O Prof. Amadeu Carvalho Homem (O Primeiro Conde de Arnoso e o seu tempo) e meu primo João Afonso Machado (O Morgadio de Pindela) referem por seu turno o Colégio Luso-Brasileiro, em Lisboa, à Rua de S. Felipe Néri.
[2] Foi 1º Conde de Casal Ribeiro – José M.ª Caldeira do Casal Ribeiro (1825-1896), dedicou-se ao jornalismo fundando em Lisboa o jornal A Civilização. Partidário da Regeneração foi eleito deputado em 1850, foi Ministro da Fazenda em 1859, e, em 1860, dos Negócios Estrangeiros e, mais tarde, das Obras Públicas. O Marquês de Loulé nomeou-o Ministro em Paris cargo em que se manteve até 19-5-1870. Desempenhou o cargo de Ministro em Madrid no qual viria a morrer. Foi casado com D. M.ª da Conceição Quintela Emauz. Foi Conselheiro de Estado efectivo, Par-do-Reino (1865), sócio da Academia Real das Ciências e da Academia de História de Madrid. Seu filho varão primogénito, José Frederico do Casal Ribeiro que, nasceu em Lisboa, em 28 de Abril de 1851 e, morreu em 31 de Julho de 1907, foi educado com o Conde de Arnoso.
[3] Os Portugueses e o Oriente: Sião, China, Japão (1840-1940): Mostra bibliográfica, 4 de novembro de 2004 – 29 de Janeiro de 2005. – Lisboa: BN, 2004, p. 89
[4] Manuela Delgado Leão Ramos, António Feijó e Camilo Pessanha no Panorama do Orientalismo Português, Lisboa, Fundação Oriente, 2001
[5] Em carta de Salamanca e Paris, de 1899, dirigida ao Conde de Arnoso, Eça de Queirós referia-se assim a um desses repastos: «Essa adorável casa de S. Domingos à Lapa, apesar do seu santo nome, era a diabólica Ilha dos Lotófagos, onde, depois de comer a flor de Loto (ponhamos o bacalhau assado) a gente tudo esquecia envolta em beatitude. Em torno de mim boiavam Sereias».
[6] Cf. M. Castro Henriques, O Culto dos Regicidas
João Afonso Machado, Minhotos, Diplomatas e Amigos – A correspondência (1886-1916) entre o 2º Visconde de Pindela e António Feijó, Linda-a-Velha, DG Edições, 2007 João Afonso Machado, O Morgadio de Pindela, Porto, Ed. do Autor, 1999, pp. 121-132 Júlio de Sousa e Costa, O Rei D. Carlos I – Factos Inéditos do seu tempo (1863-1908), Livraria Bertrand, Lisboa, 1943 Luís de Oliveira Guimarães, O Conde de Arnoso, Lisboa, Fundação da Casa de Bragança, 1958; Luiz Vieira de Castro, D. Carlos I, (Elementos de história diplomática), 2ª ed. Lisboa, Ed. Império, 1941; Manuel Teixeira, Macau visto pelo Conde de Arnoso, in “Revista de Cultura”, Macau, 2 (7-8) Out. 1988-Mar. 1989, p. 63-78 Manuel da Silva Gaio & Joaquim de Carvalho, Os vencidos da vida, Imprensa da Universidade, 1931 Maria Filomena Mónica, Eça de Queiroz, Lisboa, Quetzal Editores, 2001, Maria José Marinho, Espólio do Conde de Arnoso [BN Esp. 32]: inventário. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2005 Os Vencidos da Vida – Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Carlos Lobo d’Ávila & Outros, Lisboa -Fronteira do Caos, 2006 Raquel Henriques da Silva, Cascais, Editorial Presença, Lisboa, 1988 Ricardo A. Alves, Eça e os Vencidos da Vida em Cascais, Câmara Municipal, 1988 Rui Ramos, D. Carlos, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006 Rui Ramos, A Segunda Fundação (1890-1926), in «História de Portugal» dir. por José Mattoso, Vol. VI, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, com destaque para «A Vida Nova» pp. 125-299 Rui Ramos, João Franco: uma educação liberal (1884-1897), in «Análise Social», vol XXXVI, /160’), 2001, pp. 735-766 VVAA, Conversas no Turf em torno de Os Vencidos da Vida, Lisboa, Tribuna da História, 2008