Homenagem ao Almirante Gago Coutinho (1869-1959)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Vice-Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho 

Paulo Jorge Estrela

 

gago-coutinho1
Col. Museu do Ar
Sociedade de Geografia comemorou ontem dia 17 de Fevereiro de 2009, o 140º aniversário do nascimento do Almirante Gago Coutinho com uma Sessão Solene presidida pelo Presidente da República e uma exposição de parte do espólio legado pelo homenageado à instituição, que inclui as suas condecorações.

O Alm. Gago Coutinho, matemático e geógrafo insigne, foi um dos raros portugueses condecorado com o mais elevado grau de todas as ordens militares portuguesas: Grã-Cruz das Ordens Militares da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, de Cristo, de Avis e de Santiago da Espada. Era também Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial e tinha a Medalha de Ouro de Serviços Distintos e a Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português com passadeira “Timor, 1912-1913”.
Após a realização da primeira viagem aérea Lisboa-Funchal em 1921 num Hidrovão tripulado com o Capitão Tenente Piloto Aviador Artur de Sacadura Freire Cabral e o 1º Tenente Piloto Aviador Manuel Ortins Torres Bettencourt, o então Capitão de Mar e Guerra Carlos Viegas Gago Coutinho foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, o mesmo tendo recebido o Capitão Tenente Piloto Aviador Sacadura Cabral e Manuel Ortis Bettencourt, o grau de Cavaleiro (Decreto 20 de Maio de 1921 (D.G. 114 / II Série / 1921).

 

A Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada foi-lhe atribuída, bem como ao Capitão Tenente PA Artur de Sacadura Cabral, após terem completado com sucesso a primeira parte da travessia aérea do Atlântico Sul entre Lisboa e Cabo Verde, primeiro no Hidrovião «Lusitânia» e, finalizando a viagem de Fernando Noronha-Recife-Rio de Janeiro, no hidrovião «Santa Cruz», hoje exposto no Museu da Marinha em Lisboa.
O Decreto de concessão dizia:
«Considerando que a viagem aérea, realizada pelos Oficiais de Marinha Gago Coutinho e Sacadura Cabral, demonstra a continuidade da missão histórica que glorificou a nacionalidade portuguesa, iniciadora e propugnadora das grandes descobertas que deram aos homens o conhecimento integral da Terra;
Considerando que, perante a evidência de tal demonstração, se fortalece no espírito nacional a consciência da própria grandeza, nunca desmentida em oito séculos de história;
Considerando que ao alcance patriótico da arrojada travessia se deve acrescentar a sua importância
científica, reconhecida por todo o mundo culto, que seguiu com alvoroço as peripécias da épica empresa;
Considerando que a rota aérea, reflectindo no espaço a esteira das naus descobridoras, mais uma vez une a velha metrópole ao povo que levantadamente perpetua além do Atlântico as gloriosas tradições da raça;
Atendendo a que a ponderada coragem e o metódico saber, tão brilhantemente manifestados pelos dois aviadores, os tornam dignos da mais alta recompensa honorífica que ao valor, à lealdade e ao mérito pode conferir o Governo da República:
Hei por bem, sob proposta do Ministro da Marinha, aprovada pelo Conselho da Ordem Militar da Torre e Espada, decretar que o Capitão de Mar-e-Guerra Carlos Viegas Gago Coutinho, e o Capitão-Tenente Artur de Sacadura Freire Cabral sejam condecorados com o grau de Grã-Cruz da Ordem da
Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito».
 [Decreto 19 Abril 1922 (D.G. 91 / II Série / 1922]
Entre as condecorações estrangeiras foi agraciado com:
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (Brasil)
Comendador da Legião de Honra (França),
Grã-Cruzes do Mérito Militar com Distintivo Branco e do Mérito Naval com Distintivo Branco (Espanha)
Grã-Cruz da Ordem de Leopoldo II (Bélgica)
Grã-Cruz da Ordem da Coroa de Itália.

Aproveitando a oportunidade das várias cerimónias oficiais de homenagem ao Almirante Gago Coutinho (sem esquecer o grande Piloto Aviador Naval Sacadura Cabral), publicamos alguns diplomas legais referentes a algumas dessas homenagens. Sendo este um blog cuja temática principal é a Falerística, dar-se-á sempre prioridade a curiosidades relacionadas com Ordens Honoríficas e outras condecorações.

Placa-de-Gra-Cruz-ou-Grande-Oficial

Também a Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada foi-lhes concedida:

O Decreto de concessão, de 27 de Abril de 1922, dizia:
Considerando que o Capitão de Mar-e-Guerra Carlos Viegas Gago Coutinho e o Capitão-Tenente Artur de Sacadura Freire Cabral, revelaram quer na preparação, quer na realização da viagem aérea Lisboa-Brasil, qualidades excepcionais de saber que produziram a admiração do mundo culto, pondo em prática processos seus que resolvem os mais importantes problemas de navegação aérea;
Considerando que da viagem realizada a ciência tirará ensinamentos que a habilitem à resolução de outros problemas que interessam à navegação:Hei por bem, sob proposta do Ministro da Marinha, aprovada pelo Conselho da Ordem Militar de Santiago da Espada, decretar que o Capitão de Mar-e-Guerra Carlos Viegas Gago Coutinho e o Capitão-Tenente Artur de Sacadura Freire Cabral, sejam condecorados com o grau de Grã-Cruz da referida Ordem.
(Diário de Governo nº 99, II Série, de 1922)
A Sociedade Propaganda de Portugal, uma associação criada em 1906, e que tinha o intuito de ajudar a desenvolver as atividades morais,intelectuais e materiais, sem vinculação religiosa ou partidária, também se associou às homenagens nacionais e internacionais e concedeu-lhes (com sancionamento do Ministério do Interior) o seu distintivo, isto é, um Colar.
Colar-Soc-Propag-Portugal
O Decreto de autorização, de 23 de Julho de 1922, dizia:
Tendo a Sociedade Propaganda de Portugal, em sua Sessão de 27 de Abril último, apreciado o famoso raid Lisboa-Rio de Janeiro e resolvido propor ao Governo a concessão do seu distintivo aos aviadores Carlos Viegas Gago Coutinho e Artur de Sacadura Freire Cabral, em reconhecimento e consideração pelo heróico feito levado a cabo, com feliz êxito, por esses intrépidos Oficiais da Marinha de Guerra Portuguesa, pelo Ministro do Interior e em harmonia com o Decreto nº 6.439, de 3 de Março de 1920, conferir aos mencionados Oficiais Carlos Viegas Gago Coutinho e Artur de Sacadura Freire Cabral o distintivo com que a Sociedade Propaganda de Portugal galardoa as pessoas que pelos seus serviços mereçam o seu carinhoso afecto e reconhecimento.
(Diário de Governo nº 174, II Série, de 1922)Também a Cruz Vermelha Portuguesa se associou a esta série de concessões.
Placa de Honra CVP
Na Portaria do Ministério da Marinha de de 6 de Outubro de 1922, constava singelamente:
Contra-Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho e Capitão-de-Fragata Artur de Sacadura Freire Cabral – condecorados com a Placa de Honra da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, nos termos do Decreto nº 4.551, de 22 de Junho de 1918.
(Diário de Governo nº 234, II Série, de 1922)Em 1926, Gago Coutinho foi nomeado Director Honorário da Aeronáutica Naval, o que era uma grande homenagem dado que este Oficial da Armada não era Piloto Aviador. Assim, foi publicado o Decreto de de 6 de Maio de 1926:Convindo dar ao Contra-Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho, por parte da Marinha Portuguesa, um testemunho da alta consideração que merece por haver contribuído, em grande parte, para a realização do raid Lisboa-Rio de Janeiro, levado a efeito e 1922, tendo, desde então, o seu nome ficado vinculado, de uma forma indelével, não só à Aviação Naval Portuguesa, que muito honrou, ao mesmo tempo que, no estrangeiro, levantava mais alto o nome de Portugal, mas também, pode dizer-se, à Aviação mundial, por virtude dos seus proficientes estudos e trabalhos sobre Navegação Aérea: hei por bem, sob proposta do Ministro da Marinha, decretar que o supracitado Contra-Almirante Carlos Viegas Gago Coutinho seja nomeado Director Honorário da Aeronáutica Naval, sendo-lhe concedido o uso do Distintivo de Piloto Aviador, encimado por duas palmas cruzadas.
(Diário de Governo nº 109, II Série, de 1926)

 

Homenagem a Sacadura Cabral (1881-1924)

sábado, 21 de fevereiro de 2009 (originalmente publicado no Blog PHALERAE

Homenagem a Sacadura Cabral

Paulo Jorge Estrela

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Na senda das homenagens a Gago Coutinho é impossível esquecer o outro elemento da mais famosa dupla da História de Portugal: Sacadura Cabral.
Depois de viver anos de apoteose nacional e internacional junto de Gago Coutinho, o Piloto Aviador Naval responsável pela pilotagem dos três aeroplanos que fizeram a famosa travessia do Atlântico Sul, este Oficial de Marinha vai ter um fim trágico.
Em 1923 começou a trabalhar para o seu projecto de reunir condições que permitissem um inédito voo de circum-navegação, segundo a rota de Fernão de Magalhães.
Com ofertas várias e com as subscrições abertas em Portugal e no Brasil, conseguiu reunir dinheiro para a compra de 5 aviões Fokker T III W, que escolheu para o dito projecto. Em Junho de 1924 partiu para os Países-Baixos para assistir à recepção oficial dos aeroplanos e regressou a Portugal um mês depois, pilotando um desses aviões.
Em Novembro do mesmo ano regressou à Holanda, com outros pilotos, para trazerem os outros que faltavam.
No dia 15 de Novembro de 1924, Sacadura Cabral, e o seu Mecânico Pinto Correia, morrem quando, enfrentando condições climatéricas muito adversas, o seu avião caiu (por causas ainda hoje desconhecidas) algures no Mar do Norte, após a saída de Amesterdão e quando se dirigia para Lisboa.
Como alguém disse, de uma forma muito poética: “O mar foi a sua mortalha e o avião a sua tumba”

O mundo civilizado ficou chocado com a trágica morte deste herói da aviação e, quando do desastre foram mobilizados meios imensos para encontrar e resgatar o seu corpo, no entanto todos os trabalhos foram infrutíferos. É em consequência deste esforço internacional que será publicado um decreto que vai conceder algumas Ordens Honoríficas Portuguesas para premiar aqueles que, sendo estrangeiros, mais se empenharam na busca.

Decreto de 10 de Agosto de 1927 (Diário de Governo nº 193, II Série, de 1927)
Ministério da Marinha, Repartição do Gabinete
Usando da faculdade que me confere o n.º 2 do artigo 2.º do Decreto n.º 12.740, de 26 de Novembro de 1926, sob propostas do Ministro da Marinha, aprovadas pelos respectivos Conselhos das Ordens Militares de Avis e de Cristo, depois de prévias informações favoráveis do Ministério dos Negócios Estrangeiros: hei por bem decretar que os Oficiais e cidadãos de diversas nacionalidades, abaixo mencionados, que intervieram nas buscas realizadas por ocasião do desastre, ocorrido no mar, que vitimou o Capitão-de-Fragata Artur de Sacadura Freire Cabral e o Mecânico José Pinto Correia, sejam condecorados com os graus das referidas Ordens que lhes vão indicados:

  • Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis:
    Robert-Marie-Gabriel-Alfred De Marguerye, Vice-Almirante da Marinha Francesa
    C. C. Zegers Ryser, Contra-Almirante da Marinha Holandesa
    D. Luis Pasquín y Reinoso, Contra-Almirante da Marinha Espanhola
  • Comendador da Ordem Militar de Avis:
    Hautefeuille, Capitão-de-Fragata da Marinha Francesa
    E. A. Mesnage, Capitão-de-Fragata da Marinha Francesa
    L. C. P. Pochart, Capitão-de-Fragata da Marinha Francesa
    Gautret de la Moricière, da Marinha Francesa

Edmond Grabbe, Capitão-Tenente da Marinha Belga

  • Oficial da Ordem Militar de Avis:
    C. A. Weemhoff, 1º Tenente Aviador da Aviação Holandesa
    Bouleau, 1º Tenente da Marinha Francesa
    Loudes, 1º Tenente da Marinha Francesa
    G. E. Benoit, 1º Tenente da Marinha Francesa
  • Cavaleiro da Ordem Militar de Avis:
    P. van Lenning, 2º Tenente Aviador da Aviação Holandesa
    A. J. E. Deshayes, Guarda-Marinha da Marinha Francesa
    J. M. L. Guillemin, Guarda-Marinha da Marinha Francesa
  • Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo:
    Joseph Daems, Cidadão belga, Chefe do Aeródromo de Ostende
    Pierre Martinsen, Cidadão belga, Mestre da Traineira 87 Emmanuel

 

sábado, 21 de fevereiro de 2009
Homenagem a Sacadura Cabral
Na senda das homenagens a Gago Coutinho é impossível esquecer o outro elemento da mais famosa dupla da História de Portugal: Sacadura Cabral.
Depois de viver anos de apoteose nacional e internacional junto de Gago Coutinho, o Piloto Aviador Naval responsável pela pilotagem dos três aeroplanos que fizeram a famosa travessia do Atlântico Sul, este Oficial de Marinha vai ter um fim trágico.
Em 1923 começou a trabalhar para o seu projecto de reunir condições que permitissem um inédito voo de circum-navegação, segundo a rota de Fernão de Magalhães.
Com ofertas várias e com as subscrições abertas em Portugal e no Brasil, conseguiu reunir dinheiro para a compra de 5 aviões Fokker T III W, que escolheu para o dito projecto. Em Junho de 1924 partiu para os Países-Baixos para assistir à recepção oficial dos aeroplanos e regressou a Portugal um mês depois, pilotando um desses aviões.
Em Novembro do mesmo ano regressou à Holanda, com outros pilotos, para trazerem os outros que faltavam.
No dia 15 de Novembro de 1924, Sacadura Cabral, e o seu Mecânico Pinto Correia, morrem quando, enfrentando condições climatéricas muito adversas, o seu avião caiu (por causas ainda hoje desconhecidas) algures no Mar do Norte, após a saída de Amesterdão e quando se dirigia para Lisboa.
Como alguém disse, de uma forma muito poética: “O mar foi a sua mortalha e o avião a sua tumba”

O mundo civilizado ficou chocado com a trágica morte deste herói da aviação e, quando do desastre foram mobilizados meios imensos para encontrar e resgatar o seu corpo, no entanto todos os trabalhos foram infrutíferos. É em consequência deste esforço internacional que será publicado um decreto que vai conceder algumas Ordens Honoríficas Portuguesas para premiar aqueles que, sendo estrangeiros, mais se empenharam na busca.

Decreto de 10 de Agosto de 1927 (Diário de Governo nº 193, II Série, de 1927)
Ministério da Marinha, Repartição do Gabinete
Usando da faculdade que me confere o n.º 2 do artigo 2.º do Decreto n.º 12.740, de 26 de Novembro de 1926, sob propostas do Ministro da Marinha, aprovadas pelos respectivos Conselhos das Ordens Militares de Avis e de Cristo, depois de prévias informações favoráveis do Ministério dos Negócios Estrangeiros: hei por bem decretar que os Oficiais e cidadãos de diversas nacionalidades, abaixo mencionados, que intervieram nas buscas realizadas por ocasião do desastre, ocorrido no mar, que vitimou o Capitão-de-Fragata Artur de Sacadura Freire Cabral e o Mecânico José Pinto Correia, sejam condecorados com os graus das referidas Ordens que lhes vão indicados:

– Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis:
Robert-Marie-Gabriel-Alfred De Marguerye, Vice-Almirante da Marinha Francesa
C. C. Zegers Ryser, Contra-Almirante da Marinha Holandesa
D. Luis Pasquín y Reinoso, Contra-Almirante da Marinha Espanhola

– Comendador da Ordem Militar de Avis:
Hautefeuille, Capitão-de-Fragata da Marinha Francesa
E. A. Mesnage, Capitão-de-Fragata da Marinha Francesa
L. C. P. Pochart, Capitão-de-Fragata da Marinha Francesa
Gautret de la Moricière, da Marinha Francesa
Edmond Grabbe, Capitão-Tenente da Marinha Belga

– Oficial da Ordem Militar de Avis:
C. A. Weemhoff, 1º Tenente Aviador da Aviação Holandesa
Bouleau, 1º Tenente da Marinha Francesa
Loudes, 1º Tenente da Marinha Francesa
G. E. Benoit, 1º Tenente da Marinha Francesa

– Cavaleiro da Ordem Militar de Avis:
P. van Lenning, 2º Tenente Aviador da Aviação Holandesa
A. J. E. Deshayes, Guarda-Marinha da Marinha Francesa
J. M. L. Guillemin, Guarda-Marinha da Marinha Francesa

– Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo:
Joseph Daems, Cidadão belga, Chefe do Aeródromo de Ostende
Pierre Martinsen, Cidadão belga, Mestre da Traineira 87 Emmanuel